quinta-feira, 21 de maio de 2015

De asas feito.


Ama-me,
mas ama-me em liberdade,
sem cordas ou desventura,
que o vento e as marés
nos fogem, se os quisermos em clausura.
Pinta-me,
rodeia-me do teu retrato,
sê com arte a minha calma,
serei o teu dia de àgua, o teu nome ao sol,
teu furacão imenso em ondas de alma.
Ama-me,
mas ama-me com asas e mundos,
que eu sinta de verdade,
ama-me amor, com ciume e avidez,
mas ama-me em liberdade.
Escreve-me,
mas não me descrevas,
senão bem dentro do peito,
nada me prendas amor,
só lealdade, e a flor, o amor perfeito.


Óscar Dinis

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Do Limes....x

"Porque na casa de Deus não há desumanidades; nem homens nem mulheres. Nada que não crie humanidade. Apenas Homens e Mulheres."

Óscar Dinis

sábado, 3 de janeiro de 2015

Limes...


Um homem deve ter amigos bons e maus inimigos.

Da campanha de 406 
escorreu sangue de vésperas de ano novo
e o império dos "destinados" colapsou
embriagado em si mesmo 
pelas espadas dos "integrados".
Entre o "empréstimo" e a fúria de Átila,
escolheram a fuga e invadiram.
60 anos de noite se esperou até que
"Childerico Rex" deu à guerra Clóvis,
e os sálios de espada dada a renanos
massacraram Siágrio ainda não
por nome de Deus nosso senhor
em conversão por Clotilde.
Por 15 anos de herança,
o Sul! A Franca matança.

Óscar Dinis

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O Limes...


- Então e a "postinha" minha senhora? Vai assim? Larguinha, ou mais fininha?
- Vê lá tu ó Zé, que eu não trouxe os óculos. Mas quero-as boas!
- Tá bom assim.

27 bacalhaus cortados depois...

- Ora cá está. Trabalhinho feito; 27 bacalhauzinhos cortados; eu ajudo a pôr no carrinho; tenham um grande natal.
- Ah! Mas eu não quero as "postas" cortadas assim! São muito magrelas! Eu quero-as mais largas! Vai ter de me cortar outros 27 bacalhaus porque eu não levo estes!
- Foi o seu marido que disse para cortar assim.
- És sempre a mesma coisa, ó Zé! Não percebes nada disto! Ainda vês menos que eu! E para mais, não trouxe os óculos!
- Bom natal minha sra.; para si e para todos os seus.
- Bom natal só se for para si! Vocês homens não percebem nada disto!
Outra pessoa na fila...
- Eu não me importo nada de os levar, gosto deles assim, cortadinhos fininhos e de posta grossa. Não se preocupe a sra. que eu levo-os.
- Quê? Não senhor! Estive eu aqui este tempo todo à espera para agora me aparecer um flauzino e ficar-me com os bacalhaus! Não senhor, são meus! Estão bons não estão? Pois...mas têm dona!
- Eu bem disse que estavam bons assim.
- Tu queres estar calado , Zé? Não achas que já me envergonhaste o suficiente por hoje?
- Bom natal minha sra.; para si e para todos os seus.

- Para o sr também. Quanto a si meta-se na fila e não esteja a desorientar as pessoas nem a fazê-las perder tempo, ouviu?
- Com certeza minha senhora.


De 12 a 16 de setembro 

De 29 de setembro a 3 de outubro
De 14 a 18 de outubro

Do corredor só escutou silencio. Duas vezes bateu, naquela porta dolente e bolorenta, e lá dentro uma voz apagada e dorida perguntou, "Quem é?", não respondeu de imediato, sabia que aquele cobarde miserável vivia ali, estava ali para matar saudades. "Boa noite, é aqui que mora o Hiena ?", perguntou, colocando-se ao lado da porta e de frente para a entrada do corredor que dava para as escadas que tinha subido. Sentiu o barulho de uma chave a rodar e a porta abriu-se apenas o suficiente para um vislumbre de um rosto enegrecido e quase mumificado que de uma boca seca e sem dentes lhe perguntou, " Ele não está. Quem deseja falar-lhe?", Tentou perceber o género daquela incrível forma de ser humano, que reparou ter dois buracos onde há muito teriam habitado dois olhos, mas tal não lhe foi possível, também devido a uma luz rarefeita provinda de uma pequena vela que não iluminava todo aquele corredor quase feral. " Ele sabe quem eu sou. E também sabe que não estou aqui para lhe falar." Quem quer que fosse, ou o que quer que fosse, que tinha aberto aquela porta quase pareceu emocionar-se, assustar-se. " Que queres tu do meu filho?", perguntou. Não obteve resposta senão a do vento gelado, que percorria agora todo o corredor desabitado, que vinha da entrada aberta do que outrora fora um edifício de esperança, onde moraram os ancestrais colonos daquela cidade há muito esquecida por Deus.


Eram alvas,
melissas,
e tinham os "róseos dedos"


E toda a verdade,
só está,
no absolutamente indizível,
E vou ser nada, absolutamente nada, nada é tudo onde, para sempre, me conseguirei ficar .

Dolente parte o dia,
mas só ele,
as estrelas não,
De velas que brilham,
sobre o mar estrelado,
De belas que brilham,

Aparte que nasces,
dos dedos fecundos,
Antípodas de solidão,
Amor meu,
Ítaca de ventre e beijo,
Penélope,
Teia em lava derramada,




Meus Deus! O quanto aquele eu gostou de ti.

Se há algo que a vida te ensinou é que uma cobra, por muitas peles que dispa, é sempre uma cobra. 

Óscar Dinis


Ó Noite!,
o poder às aves;
à lucidez da água;
ao conto, aos sonhos,
ao canto, ao beijo,
à mão fadada,
ás árvores,
O poder, Ó Noite!,
- em que sucumbidos sejam,
os portões de bronze,
que de cedros abrem,
o permanente futuro - ,
Onde dorme o mar da lua,
E um gemido,
mergulha profundo,
até que aonde o mar acorde,
transborde,
e regresse ao vento.

Óscar Dinis



Na casa da ilha,
cercada de casas,
de ilhas,
só o tempo não envelhece.
E nos tempos outros se pudesse,
atrasar os ventos, lhe parece,
O arquétipo, nova casa,
nova ilha; mais perece.
Futilidade, o infinito,
se alguma vez não entardece.

Óscar Dinis





Quando as folhagens
Dos sóis de outono
Te vierem suplicar a minha alma,
Esvoaçado e breve,
Me encontrarás...Avo de chuvas,
Esculpido em mim, crú de vontades...
Mostrar-te-ei o meu olhar,
Das noites todas desfolhadas.
Quando irromperem outros olhos
Nestas mágoas, Não acusarás de peito aceso
As madrugadas,
De invernos todos falseadas,
Quando as areias,
De rosto estio,
Te vierem suplicar a minha alma,
Renascido e cheio,
Reclamar-me-ão primeiro as primaveras.

Óscar Dinis



Para sempre não, que para sempre é muito tempo. Qualquer dia.

Impedes o vento de soprar? A boca de beijar? Devias impedir-te de me amar.

Sei que sonho uma vez mais,
Como um Quixote louco te retenho,
Minha Dulcineia de oiro toda amada,
Meu signo, horizonte, meu desenho.
Minha música por moínhos enganada,
Toda de vento - a mim tão destinada -
Para sempre amor de falso infante,
Minha terna Açucena, incessante,
Eu errante...
Óscar Dinis

Vivi convosco mais de um ano. Deram-me paz de espírito, amor e proteção, vivi convosco o paraíso, mas devo regressar ao inferno. Foi de lá que vim, foi de lá quem fui e nunca deixei de ser. Foi de lá que nasci. Tenho de regressar lá para matar algumas saudades, mesmo sabendo que morrerei a fazê-lo.
A lealdade à estupidez, não é lealdade, é estupidez!

Todo aquele que faz suas as honrarias do suor alheio, pode parecer honrado às multidões, mas sabe-se em consciência, ainda que a não tenha, um canalha mascarado; e isso é ter dentro de si um mundo inteiro de escuridão e um universo de culpa, onde nenhum deus, nenhuma luz, o desculpará.

Dos Ditadores ( in Limes )

Iminêncio viria depois, como era seu timbre, quando tudo já estava acontecido e nada mais havia se não que contar. Alegrêncio era o dominador, não comum, mas o que se impunha às ideias de Permitêncio que chefiava através, e atrás, de uma escotilha reparada à pressa por Urgêncio, naquela outra noite de rio cheio e "alagativo" em que os ventos tudo viraram, com exceção de Poderêncio que numa braçada os retirou a todos ao afogamento mais que certo. Sois de àgua doce, Disse Iminêncio, Tentando tirar méritos aos que os viveram. Está bem de ver que Poderêncio não estava presente e que Alegrêncio imediata e sumulamente, lhe disse, Não vales um chavo, uma merdinha, só falas do que não estiveste nem pudeste estar, aliás, como sempre não podes. Ao menos Permitêncio, que de chefe só tem o bote, ao menos esse, mal ou pior, sempre nos acompanha, já tu, és menos que a vara, que o fio, que o anzol, que também a ti te sustenta, mas ao qual renegas e à fome que te matamos, quando quase nos matamos para, também a ti, encher o celeiro que é essa tua pança. Desconfiêncio havia acabado de entrar. Mau, estão a discutir por minha causa? Tu é que lhe devias enfiar um porreto nos cornos, disse-lhe Alegrêncio, Nos cornos??? Estás a chamar-me o quê? Hã? E á tua cunhada? Desconfiêncio estava descontrolado. Ó homem, deixa-te de paranoias, pá!


"Há meses "escolheram" os meus filhos. Naquele pressentimento de Mãe, a minha mulher rogou por misericórdia e foi imediatamente "escolhida" mesmo à minha frente. Mataram-me tudo o que alguma vez fui, o que alguma vez poderia eu voltar a ser. Ontem, "escolheram-me" a mim para ser "libertado" amanhã. Quando chegar a Deus, a primeira coisa que lhe direi é, " Nunca te perdoarei."

Treblinka, Janeiro1943

As quatro estações.

Seja como for, já não és tempo desse tempo; já só lhe pertences nas memórias que insistes permanentes neste tempo de agora que é o fim do teu verão, e que tão teimosamente insistes primaveril, como se o simbolismo das acácias te fosse apropriado. Devias observar-te no outono que és; vivê-lo à intensidade das árvores ainda ladinas, mas mais coerentes, em cujo tronco nu tens refletido a tua verdadeira imagem, a desbotar para preto e branco, sem a eversão da perda das folhas, que são o teu cabelo nos primeiros vestígios de neve.
Enquanto corres ainda junto aos bancos de jardim que, sem que ainda tenhas reparado, serão o teu serão e poiso no inverno anunciado e nem por isso menos desejado; o inverno contemplativo aonde, assentado na madeira, num horizonte de memórias carregado de vitrais verás em chamas endógenas, muito mais reais e intensas agora do que de facto alguma vez aconteceram, o que foram a tua primavera, o teu verão e o que foi o teu outono ainda por viver.  

Num orgasmo é sempre o espermatozoide que sobrevive o mais penalizado.
31-10-2015

A vida nada nos deve. Toma-nos de emprestado e devolve-nos, e nós demos-lhe tudo.

Faz hoje 6 anos que sobrevivi a um enfarte do miocárdio. Fez há um mês 17 anos que me foi ( após 2 anos de consultas e merdices que não levaram a lado nenhum ) diagnosticada uma rotura brutal nos músculos da zona da "sagrada"- os dois anos de "análises" fizeram com que este problema já não tivesse remissão- " Se for operado pode ficar "coxo", o melhor é ir "gerindo" até ao fim da vida." Fez dois meses há dois dias, que me implantaram lentes nos dois olhos para ir "gerindo" também. Sou um triste pá! Tou todo kitado!!!

Ai sim??? E estás a queixar-te de quê? Faz anos que muita gente já não faz anos pá! Vai chorar pó c....!!!

Não levamos nada da vida. Quando viemos nada trouxemos. Nem o que lhe demos foi a única coisa que ficou de nós.


Se o sangue de onde viemos nunca foi verdadeiramente aceite; foi desde sempre ultrapassado; desde sempre humilhado; brutalmente assassinado; então, Maria, tivesse eu poder um dia, qualquer dia Maria, mas nunca te contaria.


Descendentes vamos
até que do armário
saltem as pratas e os copos
porque dizias dos becos
profundos das areias
que éramos o principio e o fim.
Das ondas apenas nós
e todo o mundo
que dizias, e a lua
e o arco de saturno
das pedras onde sentámos
deus e o diabo
jesus e judas
maria e a madalena
e lágrimas de um gato pardo
pensaste que éramos..o principio e o fim.






Um dia todos os seres humanos serão iguais, mas nenhum ser humano verá esse dia.
18-11-2015

E de Jerusalém chega-se ao céu, mas é verdadeiramente a cidade do inferno. A partir daí muitas "línguas" se desatarão apenas para confirmar a horrível mentira. Porque, Se o sangue de onde viemos não é aceite, tudo o resto nunca o deveria ter sido.

 19-11-2015

Se eu soubesse o que sei hoje,
não tinha andado em boleias
não tinha fumado charros,
nas noites tão mal dormidas
eu tinha comprado um carro
e feito amor com as lombrigas.
Que sim, que são animais,
que nos merecem respeito,
não tinha fumado charros,
nem levado tudo a peito.


Coimbra, cada vez, tem mais desencanto.

Latada...

Nisto dou a curva para a Psicologia e aí tenho de travar a fundo. Há 3 gandulos a fazer flexões no meio da estrada, logo a seguir à curva. Á volta deles, dezenas a "animar" estes atletas de circunstância. Penso, Olha que o gordo da direta é bem capaz de ganhar isto, ainda é o único que consegue mexer-se. Alguém atrás de mim, mais apressado e menos dado a brincadeiras parvas, apita demoradamente do seu carro, e é dado o clarim da revolta estudantil. Passam pelos dois lados do meu carro, mas numa inflexão de matilha vaporizada a cerveja em excesso, escolhem-me, a mim, o único dos automobilistas que estava mesmo a curtir a "cena", como o causador do desatino, que eles, coitados, não provocaram. Acordei da "aposta" e vi-os a vociferar junto ao vidro do carro do meu lado. É nesta altura que o vidro é socado por um deles. Abri o vidro, desliguei o carro, saí, e no meio daquela confusão disse-lhes a sorrir, Seria avisado não voltarem a fazer isso. Um, vestido de azul, despiu o azul e em tronco nu ( se chovia pá! ) dá em bambolear à minha frente , assim tipo, à boxer, e é imediatamente seguido por um brado monumental por parte da matilha que o seguia em apoio ao seu herói; ia haver stikada, mas eu só pensava que aquele Tyson de ocasião deveria ter a idade do meu filho, e disse, agora mais alto enquanto me colocava à frente do meu carro, Se calhar estais a cometer um enorme erro! Gargalhada geral e o tyson lá veio, altamente moralizado. Agarrei-o pelos cabelos e sequei-lhe os tomates com a mão direita, espremendo-os quase até conseguir fechar a mão. O rapaz mudou de cor enquanto eu ia falando alto para o grupo que entretanto se fechara à frente do meu carro e à minha volta. Eu só quero seguir o meu caminho pá! Atrás de mim aparecem 3 homens, homens mesmo, da minha idade talvez, e entram pelo grupo dentro a distribuir "latada" desmoronando por completo a ousadia juvenil. Após uns murros e uns "bicos" bem mandados a coisa acalmou quase de imediato. Eram 3 automobilistas que se fartaram de tanta parvoíce e vieram em meu socorro. Eu, sem dar por isso, continuava a espremer o "azul" que gemia angustiantemente e dava uns sons meio estranhos e já tinha cor quase roxa. Abri a mão e o rapaz largou um grito de dor, mais parecido ao alivio e pôs as duas mão naquele sitio não conseguindo mover-se e ficando ali, ao meu lado, agachado. Não me lembro de um olhar tão estupefacto ter em si tanto arrependimento e dor. Pode deixá-lo, diz-me um dos homens. esse hoje já não vai a lado nenhum. Como que por milagre a estrada ficou vazia e a matilha lá foi, uns apoiados nos outros, dispersos e em silêncio como quem não acredita no que acabou de acontecer: foi demasiada realidade para aquelas cabecinhas sonolentas pelo álcool. Agradeci a quem veio ajudar-me e perguntei se não seria melhor chamar a policia para dar conta da ocorrência. Uma senhora diz-me, Alguém tem de educar esta estupidez, se os pais o não fazem, alguém tem de o fazer e não deve ficar de consciência pesada porque se não se tem defendido eram eles que o iriam magoar, e muito! Não têm respeito por ninguém e só se perderam as que caíram no chão! Levantei o rapaz, que continuava agachado junto do meu carro, agora muito mais pálido, e, a custo, sentei-o em frente à porta da Faculdade de Psicologia, Apanhei o casaco ( azul ) do chão e coloquei-o em cima das pernas dele, É mais meia horita e já ficas bem, disse-lhe.  Lá fui, não sem antes deixar de pensar que, seria o gordo a ganhar aquilo.


Neste sonho tentava que o carro fosse para a frente. Acelerava, mas ele só andava de marcha atrás.
E eu não conseguia deixar de acelerar nem de andar de marcha atrás. Ia olhando para trás e via a minha mãe sentada no banco detrás. Era um sonho aflitivo, escuro e aflitivo. Não gostaria mais de sonhar assim.


Eis que me diz, " Querido, em tantos anos juntos gostava finalmente de te ouvir falar de nós . Gostava que fosses capaz de um poema transcendental, de uma frase de os dois juntos depois da morte." Pensei e disse, "Amor, se eu e tu formos para o céu, faço-te a vida num inferno."

Num gemido irracional enchi de vida as terras de carne e maresia.

Óscar Dinis

EU TIVE O MEDO DOS MEDOS,
O PAI DOS MEDOS,
O QUE É COBARDE…
AJOELHEI NOS DEGREDOS,
NAS VIELAS DOS SEGREDOS
E NÃO TIVE O SOL DE FIM DE TARDE…
VIVI NO POÇO, SEQUEI DE DOR
JÁ NEM VONTADE, A ENORME
MAS NO DIA DA GRANDE FOME
SEM SANGUE MOÇO…DISFORME
PROPUS MATAR OU VIVER
PARA QUE SOUBESSE O MEU NOME!
É CERTO QUE IA MORRER
QUE MORRERIA DISSERAM
QUALQUER OUTRO FUGIRIA
SÓ QUE EU, EU NÃO PODIA,
E O MEDO NÃO SABIA,
O QUE UM NOME TUDO CONSOME.

Óscar Dinis

Transformo cada paisagem num alento,
ali, deitado me levanto,
estranha metamorfose que acalento
como quem contempla o sol
com a alma em chuva e vendaval
... travos de luz, deslumbramento...
enquanto as águas teimosamente
nos meus olhos te relembram
e eu trémulo tento,
continuar na estrada em movimento,
estranha metamorfose que acalento...

Óscar Dinis

Não me importa se morrer
... ... sem sequer dizer adeus
deixo a certeza que sabes
que os meus olhos foram teus,
Se não nascerem mais flores
se os meus passos se quebrarem
resgata as minhas vidas
tanto orgulho por te amarem,
Se o meu corpo arrefecer
nas madrugadas vadias
não te prantes meu amôr
enche as memórias vazias,
Enche-as de asas no peito
chega-te próximo a Deus
vais no vento ouvir dizer
que os meus olhos foram teus.

Óscar Dinis

E sinto que cheguei demasiado tarde ao principio da minha vida. Sinto-o de alma oca e sem roupa para pensamentos. Entre quatro paredes lutei pela liberdade contra os meus algozes. Lutei para ser livre, lutei para ser livre como eles. Que contradição horrível. Ser livre afinal para que no fim essa luta pela liberdade não ser mais que a ascensão ao poder de uma nova ditadura, a minha, agora que sou livre. Afinal ser livre nada mais é que poder fazer o que bem entendo e também a quem quer que seja.

Óscar Dinis


De dia não virá, que o sol e a luz são dispersos . Virá de noite, que a lua ama-me.



É bem verdade que a provocação era símia e baixa, mas não o era menos o meu temperamento que por várias vezes a transcendia e alagava.

Dorme ao longe dessa noite,
Outra noite adormecida,
Vinda da estirpe de todos,
Os que sonharam a vida;

Tira os óculos camarada,
Que da alma humana,
Vês o mesmo.

Óscar Dinis



Ali, na terra cercada, onde nasce a erva e os sobreiros demarcam todas as palavras do mundo que não chegam para explicar apenas duas...a dor e a ausência,
sepultaram por lá os sonhos na colina da entrada curta e final.

No ninho da besta, dorme agora, o diabo ausente...não batas na porta. Começa aí a sua pele.



A partir de uma certa altura as coisas não são como eram, são como são e a mim não me apetece ser motorista, ama seca ou paragem de autocarro. Dar com as duas mãos e depois ficar vazio começa, de facto, a chatear-me. 




é inacreditável o poder da infância  e da saudade no meu povo, de onde sou e orgulhosamente  me sinto ser. Ser obsoleto tem as suas vantagens..mas não são perceptíveis.







E de mim? De quantas verdades precisas para criar uma mentira?

Como é possível alguém transmitir nos outros emoções tão opostas como você transmite?
Uns odeiam-no, outros amam-no, mas ninguém lhe é indiferente. Como é isso possível? "O dia em que todos me odiarem sentir-me-ei, pretensiosamente, como Cristo renunciado a Barrabás . O dia em que todos me amarem, será no dia do meu funeral".

Não escrevas mais cartas Jão.
Amanhã não as vão ler Jão.
E tu passaste sentado, pela vida.


As minhas caninas botas nunca me traem o caminho,
de tantas vontades loucas nunca foram desalinho,
pisaram terra, calçada, areia, o mar e o céu.
Mas só no céu existiram.


Um homem deve ter amigos bons e maus inimigos.


Da campanha de 406 
escorreu sangue de vésperas de ano novo
e o império dos bem ditos colapsou
embriagado em si mesmo 
pelas espadas dos "integrados"
entre o empréstimo e a fúria de Átila:
Escolheram a fuga e invadiram.
60 anos de noite se esperou até que
"Childerico Rex" deu à guerra Clóvis,
e os sálios de espada dada a renanos
massacraram Siágrio ainda não
por nome de Deus nosso senhor
em conversão por Clotilde.
Por 15 anos de herança,
o Sul! A Franca matança.

Óscar Dinis

Porque na casa de Deus não há desumanidades, nem homens nem mulheres, nada que não crie humanidade.

O simbolismo da tua vitória não pode estar na derrota dos outros.


E lembro-me de novo donzel,
As aves sabem que sim,
Que fui incêndio e céu de mel,
Vêm sorrir-me à janela,
- E então, já não voltas?,
- Não, hoje sou de cinzas.
Sorriem de novo e partem,
Não sem antes se aquecerem,
No peito morno do meu beiral,
-Tu nunca serás de frio,
Voltaremos sempre buscar-te,
Pelas tuas labaredas,
Fogoso corcel,
Nosso terno céu de mel,

Óscar Dinis







Nós somos o único inimigo declarado que temos e mantemos como amigo. Tornamos esse amigo, cobarde, invejoso, sub-repticio e submisso aos olhos dos nossos reais adversários e condenamos estes como egoístas e egocêntricos.

Não temas o que escreves hoje. Se amanhã tiveres de escrever algo completamente oposto ao que escreveste hoje, não temas o que escreveste ontem.



Não há coisa longa que dure a coerência nos seres racionais. A coerência só está destinada aos seres irracionais.


Sabes lá o que é ser; se ser é tudo aquilo que não és.

Ninguém tem verdadeira imagem de si na inveja que deposita nos outros. Se a tivesse, perceberia o reflexo e envergonhar-se-ia da companhia.

O grande problema do génio não é ser incompreendido; o seu maior problema é que quando finalmente é compreendido, já morreu.


Se daqui se visse o meu coração,

vias o mar revolto, o furacão;
Se daqui se visse a minha paixão,
vias a liberdade da minha canção;
Mas amor, a vontade é aos poucos,
e no sol procuro a sombra,
que eu só desejo àgua esguia pelos cabelos,
e tudo aquilo porque somos loucos;
Se daqui se visse toda a saudade que tenho,
era pelintrice, o que me sufoca;
Se daqui se visse o que só vejo em ti,
Terias do mundo inteiro; o que me provoca.


Deito-me e entro num sonho profundo.
Estou na minha sala. Vai jogar o Benfica. Tenho uns calções vestidos e uns chinelos "à marinheiro" calçados. Tremoços para a descasca e cerveja (Sagres) fresquinha para ir beberricando. BenficaTV  na onda e as equipas entram em campo. Uma, veste de vermelho, é o Benfica! A outra, veste de encarnado, é o Benfica! Mau! Que é isto? O Benfica contra o Benfica? Que golos vou festejar? Uma voz de alguém que não vejo diz-me: "Calma!"; Calma?... Digo eu, Calma como? Se o Benfica ganhar, perde! Diz-me a voz: "Calma. Perde, porque ganhou!" Acordo e penso: Ganda Benfica! Nem contra o Benfica perde!



E sei aonde foste, onde estiveste.



"Ontem, ao subir ao quarto,
encontrei um homem que não estava lá.
Hoje, não estava lá outra vez.
Espero que amanhã se tenha ido embora."


Do homem que não existia.

Ao fim da noite se levantou e os gritos que prenunciava libertaram-se, mas era só o vento e o silêncio.
Cortou à direita, ao fim da noite, pela estrada de alma de zinco ladeada de candeeiros de vela, e na profundidade da escuridão sentiu aquele último aviso que só é fome dos destinados . Continuou. Um homem é de quente, de sangue que jorra, e a metamorfose de um homem faz o monstro e sempre o sorriso à navalha implorando o corte à canalha.
Do apogeu nasce o crepúsculo, mas a natureza, não sendo eterna, é imortal. Adiante beijou a chuva e ouviu os gritos rufientos, próprios da coragem de matilha. Avançou sem vacilar e na mão direita deixou crescer o desafio que lhe desceu pelo escaninho do braço. Seriam uns sete. Esfaimados e de olhar tresloucado finalmente ficaram no escopo do solitário e este quase lhes sentiu a espuma escorrer pela boca, de tanta certeza de manja farta. Ao fim da noite ergueu às estrelas a adaga e atacou o frémito desavisado e as paixões silenciaram. Do alto do céu insano nada lhes pôde salvar o paganismo e Deus não queria ter nada a ver com isso. Desceu as escadas de corpo golpeado e atrás de si apenas nada. Não sentiu dor, tirou a veste e deixou a chuva escorrer o tronco dilacerado. Depois vestiu-se, rosnou às chagas, e voltou a homem sem arrependimento.


"Apressa-te a ir ao encontro da morte antes que outro ocupe o teu lugar."

Óscar Dinis










Alguns psicólogos  ( poucos felizmente ) que fui conhecendo ao longo da vida, não eram mais que psicopatas legalizados.

Preocupa-se com o benfazejo aquele que nada faz por bem.

Se somos o que pensamos, estamos inevitavelmente condenados enquanto raça.

Óscar Dinis


Morna

Ai, tenho de ir embora,        
há alguém na chuva,
na noite lá fora,
geme por carinho,
tão igual ao meu.
Ai, tenho de ir embora,
nas asas de um anjo,
que na noite escura,
geme por ternura,
triste como eu.
Ai, flor da minha vida,
de amor querida,
tenho de ir embora,
há algo lá fora,
promessa de céu.
Ai, tenho de ir embora,
na voz que me chama,
no frio, lá fora,
quer que eu vá agora,
tem tudo de meu.
Ai, tenho de ir embora,
pela ventania,
há algo lá fora,
que de mim implora,
se eu não for, morreu.
 Ai, flor da minha vida,
de amor querida,
tenho de ir embora,
há algo lá fora,
...sou eu.

Óscar Dinis


Country

Se eu às  vezes disser que a montanha,
fica longe, para lá do Alabama,
quero chegar bem pertinho da noite,
na minha casa , na verde montanha.

Se eu sempre vos cegar as estrelas,
para seguir o  seu trilho sozinho,
quero chegar bem pertinho da noite,
à minha casa, meu verde caminho.

Tenho a alma "perdida" no peito,
chego ao sonho plantado em petiz,
na cabana da verde montanha,
faço amor com você, sou feliz.

Óscar Dinis



Samba


A lua toda se enfeitiçou
foi dos olhos do meu amor,
da praia grande as estrelas dizem,
é de ti que eu gosto, é de ti que eu sou.

O mar salgado me inundou,
vindo da carne do meu amor,
da praia grande as estrelas dizem,
é de ti que eu gosto, é de ti que eu sou.


Acorda zé,
vai trabalhar,
olha o patrão,
não vai pagar.
Anda lá zé,
não sejas pouco,
tem fé ó zé,
no totoloto.
Se ele te sair,
tu vais ganhar,
e ao teu patrão,
vais trabalhar.







Quando alguém que sabemos nos detesta, nos faz uma pergunta para a qual não tem toda a informação disponível na "cábula", devemos errar. Com estas pessoas no "comando", a auto estupidificação é apenas uma questão de sobrevivência. Elas ficam extasiadas pelo nosso erro e nós podemos continuar aliviados.


Ama-me,
mas ama-me em liberdade,
sem cordas ou desventura,
que o vento e as marés
nos fogem, se os quisermos em clausura.
Pinta-me,
rodeia-me do teu retrato,
sê com arte a minha calma,
serei o teu dia de àgua, o teu nome ao sol,
teu furacão imenso em ondas de alma.
Ama-me,
mas ama-me com asas e juncos,
que eu sinta de verdade,
ama-me amor, com ciume e avidez,
mas ama-me em liberdade.
Escreve-me,
mas não me descrevas,
senão bem dentro do peito,
nada me prendas amor,
só lealdade, e a flor, o amor perfeito.



Tenho pelo meu gato o maior respeito, nunca me enganou a jogar xadrez.




Quem, em defeito, sabe dos outros por ouvido,
e a vileza do mal de boca em lodos,
saboreia do mal até ser reconhecido,
e no fim é reconhecido por todos.

Gosto muito mais do Inverno, dá muito mais sentido `minha adorada individualidade. Adoro a chuva e nem sempre ter chapéu, adoro o frio e ficar à lareira , ou saindo de casa, vestir roupa de lã...posso proteger-me dele e sinto-me muito mais livre de aglomerações. Já o verão, detesto! O calor sufocante entra por todas as frechas e é muito desconfortável partilhar areia com tanta gente.

O segredo para qualquer sucesso vindouro é manter esse segredo longe dos ouvidos do fracassado.


Entrado no bosque da vida vários caminhos me aguardavam e eu escolhi o menos frequentado. Mesmo pelas ruas da amnésia pode haver um conto ( e há sempre ), uma vela acesa que por bem se esqueceu de derreter.

Dessem-me uma casa eremita, nos topos do mundo, em verde abundo cercada; uma casa de livros inundada, uma paixão impossível , mas concretizada, pelo menos uma vez por cada 1000 anos, e eu dar-vos-ia o maior amor nas peles das arvores transcrito de todos os tempos. E nem precisava de voltar a voltar. Uma espécie de emprego de fim de vida de segunda a sexta, a tempo inteiro, de viagens a pé pelos vales circundantes rebolando na terra fresca até ser noite aos fins de semana, a divagar pela felicidade solitária de quem por alma nunca é só e pode  contar todas as historias de outros vividas e pensadas julgando apenas imaginá-las.

Respiro melhor a ausência que a presença ingrata.

É ao regressarmos aos lugares de infância que percebemos o que o tempo nos fez a ambos.

Porque tudo o que humano parece não tem alma, nem a sua melodia, sempre pretensiosa, pode tocar almas de quem por segredo pretenda ver os deuses das pautas numa boca sonora que não é mais do que um momento piedoso, de um para o outro, no vacilar da coragem de ambos; real é o chão, as asas não.


Se não souberes defender-te, nunca penses em atacar.


  Se todos os dias és obrigado a lidar com garotos não te definhes ou sintas melindre. Esses garotos nunca irão crescer, logo; podes montar todos os dias um parque infantil deixando-os brincar às insignias, enquanto tu, o seu menino pobre, as respeita enquanto realidade adulta e indiscutível.


Obrigado por mais este Luar, cavaleiro. Obrigado por estas estrelas que sem a tua espada já não veria hoje. Eu sou um guerreiro Senhora minha, o seu guerreiro, não deve agradecer-me por aquilo para que fui criado. E o amor, conheces?  A paixão por uma mulher ao ponto de dares a tua vida por ela? Eu amo-a Senhora minha e darei a minha vida pela sua em qualquer circunstância, mas o lugar de um guerreiro é proteger a sua rainha de todo e qualquer mal. Uma rainha só pode ser amada em leito por um Rei.

E era isso que ele era, um camarada estranho. Lembro-me de uma imagem dele enquanto essência. Via um documentário sobre como eram mortas as focas, à paulada, a forma como eram metidas dentro de uma área de morte, e coitadas, completamente indignado, eram mortas à paulada, brutalmente à paulada. Mas isso não era o que mais o revolvia interiormente ao ponto de desejar fazer o mesmo aos homens que as matavam. Era a imagem das outras focas, à entrada da porta sem retorno a verem o que acontecia às outras e a sua impotência perante tal monstruosidade, tão indefesas, meus deus, tão indefesas e tão cientes, tão cientes que eram expressivos os seus modos corporais chegando a virar a cabeça para o lado, à ser humano, tal a visão do horror; tão tristes e incrédulas, tão aterrorizadas, tendo a certeza da sua sorte próxima e bárbara tentando virar a cabeça como refúgio, como se tal não estivesse a acontecer e elas não fossem passar pelo mesmo; tal como ele as via e tal como ele as sentia, às vitimas.

Não é preocupante a frieza ou disfarce de um predador. Preocupante é a ingenuidade das presas.



domingo, 19 de outubro de 2014

Do Limes...


Reza Deus,
que agora está,
porque és,
quando não foste,
e não serás,
que rezavas?


A vida nada nos deve. Toma-nos de emprestado e devolve-nos, e nós demos-lhe tudo.


Óscar Dinis




Madalena

Ai,
que tristeza me inunda,
tão torpe,
tão profunda,
de pensar todo nela,

Pai,
Senhor Deus desta sorte,
que me deste esta morte,
de não poder dizê-la,

Vou,
fazer parte de um mundo,
de um solidéu
imundo,
de sofisma capela,

Pai,
deixei carne, fui vida,
toda ela esquecida,
que pecado foi tê-la?


Óscar Dinis

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