E dos anjos da velha Sé?...já te contaram?
Daquela aposta de um beijo á caloira que morava no largo das serenatas?
Das tardes do sacristão á baliza e da madre Lúcia a treinador, com dezenas de “gandins” a assistir e a vibrar?
Os treinos á noite é que era pior!
As fugas á bófia nas noites de sábado por causa do treino á bola no largo da Sé... pendurados num arame a 15 metros do chão com a polícia por baixo dos nossos pés...
Nem respirar se podia!
Uma fabulosa simulação de corpo, remate e pronto já está! Lá se partia um vidrito e ás 4 da manhã o bairro pegava fogo...
``-Filho deste! `´
``-Irmão daquela! `´
``-Olhó barulho ó boi! `´
``-Vai-te deitar ó coirão! `´
Neste clima de fraternidade... aparecia a bófia e terminava a festa!
Ás 16 horas religiosas de domingo todos os atritos da noite anterior eram sanados e com a bênção do padre João...”the show must go on!”
Domingo á tarde, todo o povinho do bairro alinhava na vigia á bófia e assistia ao grande desafio do largo, entre os “Barriga de Cevada Futebol Club”, VERSUS, “Até Fumamos em Cima de Carrinhos de Rolamentos Ganza Club”, só havendo algum interregno quando alguém retirava os sinais de “estrada em obras”, que sem querer púnhamos em todas as ruas que iam dar ao largo.
Tardes de Outono aquelas que vermelhavam a minha alma, Noites de chuva pequenina que reflectiam a tez real de um candeeiro na calçada húmida de um Deus maior.
Eu chegava com a minha viola lá por volta das onze, tocávamos até ás tantas, não havia tempos nem impossíveis, o vento, a chuva, a lua, eram os irmãos velhos desta irmandade. A Igreja, e nas suas escadas, uma gruta de calor sem chama, um velho templo asteca, de onde fomos sempre eternos!
E depois tínhamos os anjos de castanho que aqueciam nos pulmões da liberdade...lembras-te?!
Óscar Dinis
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