Há uma pedra em Penacova

..."Com dificuldade lá consegui, após várias tentativas, forçar a fechadura e entrar no quarto. O que vi a seguir deixou-me absolutamente estarrecido! A Luisa estava enrolada com o seu instrutor de mergulho, ambos completamente nús, sem sequer se terem dado ao trabalho de desfazer a cama! Olharam para mim como se eu viesse de outro planeta e eu comecei uma serie de impropérios e acusações, enquanto eles atrapalhados se iam tapando com o que podiam." Bolas pá!. Como é que foram capazes de me fazer isto?Na minha própria lua de mel!!! Isto não se faz a ninguém!" Enquanto declamava o pior dos calões que conhecia, dirigi-me á janela do quarto, abri-a e respirei fundo. Senti alguma estranheza nas vistas que observei de relance. A Luisa aproximou-se de mim tentando acalmar-me e levou-me a sentar num sofá que tinha um outro em frente com uma mesinha de madeira ao meio. Eles sentaram-se em frente a mim e começaram a explicar-se e eu com a cabeça afundada entre as duas mãos comecei a ouvir. Foi então que percebi que não conhecia a Luisa de lado rigorosamente nenhum, e muito menos o coitado do Manuel, o tal que eu soube depois, era instrutor. Levantei-me num ápice e bati, uma só vez, as duas mãos , tipo salva de palmas, e disse:" Bom, isto até foi um bocadinho bem passado mas agora tenho de ir."
Podia sentir os olhos deles ainda incrédulos nas minhas costas, enquanto eu seguia enviezado para a porta de saída. Entrei no corredor, e ao fundo existia um outro transversal e eu cortei á esquerda e desci umas escadas. Intuitivamente percebi que não fora por ali que tinha subido.Abri uma porta que dava para a rua e por muito pouco não levei com a camioneta da camara, que recolhia o lixo. A "jorca" era tão grande que só aí percebi que, não só me tinha enganado no quarto, como me tinha enganado também na própria pensão!
Já agora, e só para rematar, nem sequer estava em lua de mel... Eu tinha 15 anos pá!Como podia?"...

Óscar Dinis in " Há uma pedra em Penacova"