Enrugaram-se meus
ossos e minha pele tornou-se esponjosa, na fatigante busca do elixir. Uma taça
surgiu no horizonte, permanecendo lá, mas sempre inatingível. Era uma miragem!
O
nosso comandante havia bebido todo o rum, porém continuava a dar ordens
sensatas. “Lançai a âncora!”
E
Alá apareceu num oásis que não existia. Bebeu o doce licor materializando a
miragem num sonho ateu.
Odaliscas
bamboleavam o ventre despido e ligeiramente desenvolvido, exalando odores
parecidos com o cheiro a grãos de café dos lupanares de Marrocos. Lembro-me de
quando lá vivi... Comia fruta fresca e bebia vinho de amora. Contribuía para a
produção do “secretliqueur”, extraindo toda a frutose doa abacates recém
colhidos e adicionando-lhe leite de cabra, adicionando, em seguida, à mistura,
extracto de absinto e etanol sifilítico.
Rezava
a lenda que um conjunto de donzelas provenientes da mais elevada casta social
local, dançavam nuas à luz do luar e de uma fogueira amistosa; no solstício outonal, quando descobriram pela primeira vez a receita.
O extracto era colhido por suas mãos em concha, sendo posteriormente depositado num
largo recipiente onde jaziam amoras silvestres, alperces, figos e leite de
cabra, sendo a mistura esmagada pelos corpos nus das ninfas até a mistura começar a fermentar. Posteriormente, o
preparado era destilado sob o atento olhar de dois xamãs que haviam chegado devido ao naufrágio do navio negreiro
que os havia capturado. Os dois xamãs olhavam atentamente a mistura, entrando
num transe quase mortal.
Reza
ainda a lenda que uma das virgens se apaixonou pelo mais poderoso rei da
região, beijando-o loucamente, na cerimónia. O monarca, devido ao seu estatuto,
repudiou-a e ordenou o seu exílio. Sentindo o desprezo que povoava o olhar de
seu amado, a princesa, mutilou-se repetidamente com um dente de tigre caindo no
recipiente onde descansava a mistura. Seu sangue fundiu-se, numa
osmose etílica, com a bebida; Tendo sido esta uma das colheitas mais apreciada
pelo rei.
Eu
acredito que tenha sido verdade.
O
nome era “secretliqueur”, em tempos foi amor, até que um ditador francês assassinou
uma bela princesa que passeava num desses bosques que há pelo deserto e matou
todo o povo marroquino de desgosto. Terá sido este o ano em que nasceu a
humanidade?
Encontrámos a primeira miragem do elixir num sonho ébrio
desse licor: era azulado e ao mesmo tempo um gás incolor de solidez fascinante,
seu coeso mistério mitocondrial e pulsante cobria-nos de medo e cada gesto era
pensado , cada ideia inconclusiva.
Uma
odalisca acariciou-se, beijou-me no canto da boca e sugeriu-me a direcção nordeste. Era meia-noite quando
chegámos a um ponto que nunca poderia existir no sistema cartesiano.
Experimentámos o fellatio mental da última gota do licor e a esfinge ao longe
sorriu-nos, mostrando-nos cumplicemente a resposta a todos os seus enigmas.
«Meus
amigos» - disse eu - «Meu comandante, chegámos a bom porto!» e eis que surgiu
em minha mão o tão afamado Graal, transbordando o tão ansiado elixir feito de
vácuo. Preparei-me para bebê-lo, contemplando com um ar sereno e terno todos os
meus amigos!
No
dia seguinte acordei sozinho suando a mansarda de meus pensamentos.
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