Lá fora a noite chorosa escondeu-se numa escuridão sentida e lúgubre, semelhante à do medo profundo. Depois que os homens me quiseram ensinar os pensamentos, nunca mais soube explicar-te porque a estrela que ensombra e estia as areias é um segredo que era para ser só meu e teu. Nunca mais soube explicar-te porque razão somos as marés da lua e mantemos o nosso planeta numa órbita perfeita.
Na janela e pelos seus vidros salpicados de gotas cheias escorrem as lágrimas do vento e reflete-se um pouco atrás do meu, o teu olhar , ainda que nem sequer tomes conta.
Há quantos anos somos?, pergunto, Milhões!, dizes tu, Que afinal contigo o ontem foi sempre agora e o amanhã com a ideia de não te ter, nunca será habitável nem dizível ou descritível! A visão disso só é possível até que sorrias complacente!
Uma imensidão de árvores frias e desfolhadas de alma todas cheias de fantasmas e madrugadas e desencontros desolados correm aos milhares lá fora, no mundo arredio e insuportável dos relógios que não permitem sentimentos intemporais.
Cá dentro a imortalidade leda espreita e sobe a amurada castelar do quente do coração e a nau eterna pode uma vez mais navegar. Há cá dentro uma estranha lembrança, entranha memória, uma lenha ardente que crepita o horizonte da origem de onde sempre viemos e nunca revelámos, nem vamos querer saber revelar. Onde onde sempre morámos e nunca falámos, e sempre se calhar nem alguma vez estivemos, mas que não conseguimos deixar de pensar que é lá que habitaremos perenemente, porque de lá escolhemos a mortalidade na única vez sincera de um arbítrio livre, quando éramos feitos apenas de luz, sem saber do que éramos feitos. Cá dentro não lembra de vez em quando aquela sensação que pelo menos todos nós tivemos uma vez na vida, aquele momento único de quando o olhar se cruza e depois pára, e contempla o por-do-sol e o céu vermelho, crepúsculo do dia e da ascensão do semideus que o observa e que procura guardar esse momento para sempre, mesmo sabendo que isso é impossível. O semideus, que cá dentro, não liberta todas as maresias pelo olhar e entristece, pelos momentos de simbiose perfeita que quase todos os dias não repara e acabam lá fora e não se podem guardar.
Há quanto tempo somos?, perguntas, Milhões!, digo eu, Porque a eternidade foi contigo, mundos atrás de mundos , sois atrás de sois , planetas e estrelas e universos e degelos e agridoces de carne atrás de agridoces de carne. Se foi breve esta eternidade contigo… um breve momento sem ti, seria dolorosamente eterno!
Óscar Dinis
Óscar Dinis
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