Vem lá agora falar-me
em tons de profundidade angelical.
Traz-me os tais milagres que nunca vi
e os teus doces delírios
... que os tornam possíveis.
Explica-me...vês as minhas mãos
repletas de oleos viscosos e carvão?
Onde está a palavra que as limpa?
Vês com esses teus "tais" olhos,
que tudo endeusam,
o que o meu corpo atura?
Estou cansado pá...os meus dias
são todos de tempo derramado.
Recebo ordens , desonras,
cargas brutais, pesadelos.
E faço-o ali...no lamaçal...
Onde os teus poemas não moram.
Quando as tuas palavras
procuram disfarçar com a mentira de um mar de rosas,
os meus dias de arame farpado,
farpado até ao sangue,eu pergunto:
Há mais dignidade num dos teus poemas de utopias?
Há lá mais dor do que aquela que o meu corpo traz?
Já não chega sabes....
Quando vieres falar-me de luar,
mostra-me o teu fato de astronauta!
Quando quiseres dissertar sobre o sol,
prova-me que te faz falta...
E eu mostrar-te-ei o meu manto sagrado.
As minhas mãos,
repletas de oleos viscosos e carvão!
Óscar Dinis
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