segunda-feira, 7 de maio de 2012
E há um sussurro qualquer...
Sonho vários sonhos
alguns decerto nem são meus
mas há um que se repete
abro uma caixa maior
dentro dela uma outra mais pequena
e uma mão de barro de branco pintada
ergue um espelho por onde entro
e desço a medo, e sinto frio
uma escada em curvatura
abro um ferrolho no escuro
e há areia muita areia
e há uma praia sem sol
ao sair da catacumba
e a lua que não é lua
e sinto-me muitos quase todos
e há um sussurro qualquer...
Sonho vários sonhos
alguns decerto nem são meus
mas há um que se repete
um cheiro a terra fértil
uma tenda que num verão se estende
que não se tocam que só se entende
há um triciclo e um riso e um acordeão
um pónei castanho de plástico e giratório
e um insinuado horizonte azul
uma mesa enorme e um ramo que a sombreia
um solar, a mãe, o pai, e há pão
e mornas noites de videira
e há areia muita areia
e um ferrolho numa porta que medeia
e há uma praia sem sol e a lua que não é lua
e entro na catacumba
e há um sussurro qualquer...
Óscar Dinis
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