quinta-feira, 17 de maio de 2012

Memórias...





Dos meus dois sois se refletiu a frescura de outros tempos,
Desembocada em espirais de infância e outras manhãs mais bonitas,
Enfeitadas na verdura de um quintal e corais de espuma à beira mar.
Um rio bravo e rebelde e de calções remendados, agitava os braços,
E uma terrivel arma de elástico cortava ao espaço a eternidade
Com pedrinhas fisgadas às penas que as aves nas suas asas seguravam.
Depois dominava o mundo, pelo menos o que conhecia,
Segurando entre mãos a invencível espada de madeira,
Bordada em sonhos a oiro pelo Pai, que era o sol,
E ao sol ninguém vencia.
Aos seus pés nus, calçados só de pó, vinha depois ao crepúsculo,
A alva figura da mãe,
Autoridade máxima e seu moedeiro de prata.
Então vinha o mimo e o colo quente, vinha o banho,
E a história e o conto e o sono do guerreiro "pouca gente".

Depois veio o mármore e os lodos e o relógio do tempo,
Depois vieram as chagas e os pântanos,
E as sebes de espinhos sem rosas.
Dos meus dois sois que agora são só luar,
Através de duas vidraças, hoje apenas há, e sem reflexo de mais nada,
Um rio calmo e sereno que aguarda a hora do deserto ardente,
E das suas areias sem vida,
Para por fim poder secar.

Óscar Dinis

Sem comentários:

Enviar um comentário

Direitos de Autor

Creative Commons License
Nas Garras de um Deus Maior by Oscar Dinis is licensed under a Creative Commons Attribution-NoDerivs 3.0 Unported License.

Blogues parceiros:

Últimas publicações:

Rossa máis náum èh matuh!

Alto da Trigueira - Agricultura Biológica

Humor a Sêco - Os cartunes do Trevim

CENTRO DAS MARRADAS