terça-feira, 19 de agosto de 2014

"Figuras de Estilo" nenhum.




Nas cordas dos estendais ficava a rota roupa adormecida ao luar atento da noite funda. O animismo encontrava-se em quase tudo o que se via e sentia naquela paisagem sonolenta. Por paradoxo existia o doce sal que saído aos mares alimentava a família. A hipálage estava sempre na avó que ao subir umas escadas cansadas criava a elipse, " Quero deixar este mundo, esta vida, este desterro". Logo aí o Manuel ironizava, " Força avó! É mesmo assim que se resolvem os nossos problemas." A apóstrofe vinha de seguida quando a avó entrava finalmente no quarto," Ó maldita sina! Ó vida malvada! Que foi que nós te fizemos para sofrer desta maneira?". A hipérbole, "num oceano de lágrimas", levava por fim a avó para a cama. O Manuel dizia-me, "Isto de facto não é vida. Se olhares pela janela verás pela nossa rua que até as árvores são as mais tristes e queixosas que existem em qualquer lado", a personificação era apropriada. O José aproximou-se de nós e baixinho disse, " Ela nunca mais foi a mesma desde que o avô esticou o pernil.", o disfemismo acalorou a discussão, " Ó zé pá! Mais respeito com o avô! Vê lá como falas! O avô hoje está com os anjos e olha por todos nós!". O eufemismo levou a avante e todos dentro da casa acalmaram e ficaram uns segundos em silêncio, por alma do parente já falecido. A antítese criei-a eu, ao ver aquelas gentes vestidas de nu, sem tudo e com nada, com azar por sorte, sem sorte por azar.

Óscar Dinis

Sem comentários:

Enviar um comentário

Direitos de Autor

Creative Commons License
Nas Garras de um Deus Maior by Oscar Dinis is licensed under a Creative Commons Attribution-NoDerivs 3.0 Unported License.

Blogues parceiros:

Últimas publicações:

Rossa máis náum èh matuh!

Alto da Trigueira - Agricultura Biológica

Humor a Sêco - Os cartunes do Trevim

CENTRO DAS MARRADAS